- Ainda dói?
- Só quando eu respiro.
Mesmo. Já virou uma dor física. Dormência.
Dói pra sempre, mas não dói o tempo inteiro. Às vezes é que arde com mais força
e você não pode fazer nada a não ser esperar que passe. Então deixa doer. Deixa
sangrar. Como é mesmo que se respira? Como é mesmo que se faz qualquer coisa
quando até a sua mente trabalha contra você?
"Ele não é mais seu... Ele não é
mais seu."
Talvez eu nem tivesse lembrado se
aquele cara no ônibus não parecesse tanto com você até no jeito de sentar.
Talvez eu tivesse voltado pra casa como em tantos outros dias, ouvindo alguma
coisa no mp3 e me policiando pra não começar a cantar como uma perfeita
maluca no meio do caminho. Mas lá estava eu, como uma perfeita maluca olhando
tão intensamente pra um desconhecido. O desconhecido precisava mesmo ser a sua
cara? Olhei tanto que incomodei. Olhei tanto que quase supliquei com os olhos:
"Para. Fica fora da minha mente.
Fica fora da minha mente."
O desconhecido deve ter entendido a minha súplica, porque se virou e manteve os olhos fixos no celular, como se os meus não estivessem tão obviamente o analisando. Se virou e não olhou mais. Se virou e não olhou mais igualzinho a você...
Aline Cavalcante.
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