Era uma vez uma princesa. Ela foi criada a vida toda para seguir esse
destino, e sempre o quis, desde pequena admirando a coroa da mãe, desde pequena
adorada pelo povo, com todo o destino traçado aos seus pés. Mas, ser uma
princesa não é fácil como mostram boa parte dos contos de fada. Com o passar
dos anos a magia foi se esvaindo e a pressão para ser perfeita aumentando, a
boa garota cansando de ser boa assim. Qualquer erro era visto por uma lupa de
aumento, qualquer erro tinha grandes consequências. O carinho do povo era
sincero, e uma das melhores recompensas. Mas, a ambição em torno da coroa
trazia invejosos e interesseiros, sabia de poucos verdadeiros ali. E, o amor
simples e puro das historinhas com certeza ficava só na historinhas, o destino
era casar por conveniência, fora os canalhas interesseiros que a cercavam. Um
dia tudo aquilo explodiu, como se as cortinas caíssem no meio daquela
encenação.
- O que você quer dizer com isso?
- Ora, não se faça de desentendido! Há muito tempo que nosso casamento é
uma farsa, aliás, deve ter sido desde o começo...Mas, me trair assim, na cara
de todo o reino! Olhe a humilhação que você me fez passar! E, nossa filha? Você
não pensa nela?
- Não se faça de vítima, você também é culpada...Depois que eu te der
uma nova joia você esquecerá! E, não meta Ana nisso, aliás, ela anda meio
rebelde, você não sabe ensinar sua filha a se comportar?
- Agora você acha que eu me vendo, é isso? Você que é um péssimo pai!
Qual exemplo de casamento você quer que ela tenha?
- Bem, você se casou comigo por um acordo que seu pai fez, sua família
falida, esqueceu? Não me venha com essa...
Ela só correu, não podia mais ouvir, tudo no qual ela sempre acreditou,
tudo que a tornara quem era estava desabando. Primeiro, descobrira a falsa
amiga que sua prima era, e descobriu isso da melhor maneira possível, a pegou
na cama dando uns amassos com seu futuro noivo, isso mesmo. E, o que sua mãe
havia dito? “Não ligue para isso, ela é só um brinquedo, é com você que ele vai
casar, e melhor partido não encontrará” Isso era coisa que se falasse? E, agora
isso. Os pais. A farsa. Ela havia sido tão cega. O que restava agora? Algumas
poucas pessoas que ela tinha certeza da amizade e do caráter. O resto? Quem
poderia dizer? Ela precisava ir embora. Pensava no seu povo, mas nem isso
conseguia ser motivo suficiente. Seus sonhos, sempre foram tudo pra ela. Mas,
agora eles haviam desmoronado. “Em meio aos problemas não fuja, enfrente-os, de
cabeça erguida, não deixe de acreditar, esse é o seu destino”, dizia o pai.
Qual significado isso tinha agora? Antes que se desse conta havia pegue suas
coisas, o mais importante, deixado uma carta e partido. Ela sabia para onde ir.
- Sophie, o que você tá fazendo aqui? E, com todas essas coisas...vamos,
entre, você tá com uma cara...
- Ana, ninguém do reino pode saber que eu estou aqui, tá? Por favor, não
conte que eu irei te explicar tudo.
E, assim Sophie contou tudo. Ana era uma das suas únicas confidentes, desde
que Sophie a ajudara quando havia sido humilhada pela sua prima, elas haviam
sido tornado grandes amigas. Ana era leal, e isso era tudo que Sophie precisava
agora. Elas passaram o dia fora, havia uma taverna afastada do reino, era
rústica, diferente do que Sophie conhecia, e talvez por isso mesmo bem mais
divertida.
- Então, você tá gostando? Não é muito seu estilo é?
- Bem, definitivamente é diferente, ou seja, é tudo que estou precisando
agora.
- Então, a princesa se rebelou? Ana, você influenciou a realeza com sua
rebeldia, que feio. – disse Victor, era o irmão mais velho de Ana. Era bem
bonito, apesar de ser o oposto do que os pais queriam para as filhas, por ser
do tipo rebelde e desleixado, sem falar nas brigas com uns caras da corte,
entre eles Henrique, seu ex quase namorado. O que agora quase a tornava sua fã.
- Você contou pra ele?
- Como você acha que vai se manter escondida aqui sem a minha ajuda? Ana
pode ser rebelde para os seus padrões, mas o gênio aqui sou eu. Haha
- Ai meu Deus, Victor, cala a boca! Ana apesar da arrogância, precisamos
do meu irmão. Ninguém vai te achar com a ajuda dele.
- E, por que eu devo confiar nele?
- Nossa, princesa, desde quando você é tão desconfiada?
- Não é da sua conta, e pare de me chamar assim, alguém pode ouvir.
- Olha, eu sei o que você já fez pela minha irmã, e apesar dela ser bem
irritante, é a minha irmãzinha. Então, eu tenho uma dívida de gratidão com
você.
- Certo. Eu preciso de um tempo longe mesmo. De tudo.
- Vamos fazer algo que faça você parar de pensar.
- Ah, se eu soubesse de algo que me faz parar de pensar já o teria
feito.
- Sophie, você é plebeia agora, faça o que tem vontade de fazer. Vamos,
me diga algo.
- Eu já sei o que quero fazer. – E, como em um impulso involuntário, ela
subiu no “palco” da taverna, e começou a cantar, aquilo parecia dá certo, e
realmente ninguém sabia quem era ela. Era bom ser outra pessoa.
- Você foi ótimo, Sophie! Depois dessa, como uma boa amiga que sou, irei
cantar também. Vamos continuar o show.
- Vai lá, Ana!
- Sabe, eu pensava que as princesas tinham voz de anjo ou algo assim...
- E, quem é que é princesa aqui?
- Você tá mesmo chateada com essa história de ser princesa, não é? É
ruim assim?
- Não, tem o lado bom, e foi tudo que eu sempre quis por muito tempo.
Mas, a minha ideia de ser uma princesa era muito mágica, e o mundo não é assim.
Toda a cortina que me escondia a realidade caiu, e eu não quero mais viver
nesse mundo de ilusões.
- Foram tantas assim?
- Sim, foram. Posso te dar a lista depois. Sabe, quando se é uma
princesa você sente que tem que ser sempre perfeita, há tanto peso... Eu sempre
tenho que acreditar, e eu sempre adorei isso. Mas, agora...parece besteira.
- Bem, eu como meu bom estereótipo de rebelde manda, nunca gostei muito
dos nobres, mas sempre a vi como uma boa princesa, boa demais, todos adoram
você, você sempre faz o que é certo...
- Nem sempre, e quando eu não faço as consequências são enormes. Ás
vezes cansa ser a garota boazinha, ás vezes parece que não há uma recompensa.
- Bem, deve ter. E, todos precisamos acreditar em algo.
- Bem, no momento eu não estou podendo muito.
- Não tem problema, na hora certa você vai. Na verdade, não se preocupa
com isso, não pense em nada, só viva.
- Sim, vamos brindar a minha nova vida. Eu preciso disso. Ser a minha
outra eu para descobrir a verdade sobre quem eu sou, e sobre o que eu acredito.
- Belas palavras, Sophie. Bem, tenho outra ideia de algo que a outra
você não teria feito.
- O quê?
- Dançar comigo.
- Bem, isso não é verdade. Mas, eu não preciso de mais problemas agora,
e você me cheira á problemas.
- Você é praticamente uma princesa fugida, e provavelmente a garota mais
complicada daqui no momento, acho que o problema aqui é você. Mas, eu não ligo.
É só uma dança, não seja arrogante, vamos.
- Bem, se você quer tanto dançar com alguém problemática e destruída
como eu, o prejuízo é todo seu.
Ele só sorriu. Era divertido dançar, e não pensar, pensar a algum tempo
havia se tornado tão cansativo. Fazer coisas para se sentir viva, viver sua
outra eu, era tudo que ela queria agora, quem disse que fugir não tem suas
vantagens?
Beijo, G.