Compartilhando até dos porquês que nem eu entendo.


Compartilhando os porquês que nem eu entendo.

terça-feira, 6 de março de 2012

Luís Guilherme.

Gosto de observar e ficar com crianças. Gosto de ouvir as histórias que elas contam.  Gosto de ler pra elas e gosto mais ainda quando elas me interrompem com aquelas carinhas de pau e dizem na maior inocência do mundo:
- Ô tia, eu quero fazer xixi.
Risinhos tímidos.  Um montão de olhinhos me olhando com as mãozinhas na boca pra disfarçar. Mas que coisa sem sentido disfarçar risadas. Ainda mais de criança. Risada de criança é um negócio tão bonito...
- Aguenta aí, Julinha. A história tá quase acabando.
- Ih, tia, agora já foi.
- JÚLIA!?
- É brincadeira, tia!
Eu teria ficado com raiva. Mas o som daquelas risadinhas gostosas era tão irresistível que a minha vontade foi de jogar o livro longe e sair apertando todos os narizinhos.  Resisti com alguma dificuldade.
- E aí o menino descobriu que queria ser um astronauta quando crescesse. Todo mundo aqui já sabe o que quer ser quando crescer?
Aquela confusão linda de muita criança falando ao mesmo tempo.
- Ei, tia, eu quero ser jogador de futebol. Quando eu tava na casa da minha avó eu fiz dois gols!
- Dois gols, cara? Tudo isso?
O Gabriel confirmou com a cabeça, envaidecido, todo orgulhoso.
- E tu ganhou a partida?
- Não. Mas eu fiz dois gols!
Sorri. Não importava que ele tivesse perdido de três a dois, quatro a dois, cinco, seis, dez... O importante é que ele tinha marcado dois gols. Achei a reação dele tão brilhante que não encontrei nada pra dizer, apenas deitei o livro no colo, puxei-o pra perto e lhe fiz um carinho na cabeça.
- Eu quero ser uma fada, tia!
- Eu também quero!
E logo depois eu me surpreendi que a resposta não tivesse vindo de uma criança. Tinha vindo de mim. A Júlia me olhou com um sorrisão cheio de dentinhos faltando, mas ainda assim era tão lindo que eu quase acreditei que eu era uma fada mesmo.
- Tu também, tia?
- É... Mas além disso, a tia quer ser professora.
- Ai, tia, mas tu já é nossa professora, né?
"De vocês, toda de vocês, inteirinha." Pensei.
- Mas, e tu, Guigui, quer ser o que quando crescer?
- Eu já sou o que eu quero, tia.
Uau.
- É mesmo?
- É sim. Eu sou o Luís Guilherme.
Fiquei me perguntando onde cabia tanta confiança num garotinho tão pequeno. Com tanta coisa pra ser na vida, ele queria ser... Ele mesmo! 
- Tudo bem, Guigui. É muito legal você ser o Luís Guilherme, mas o que mais você quer ser?
- Pra que eu vou querer ser outra coisa, tia?
Sentei o pequeno grande Luís Guilherme no meu colo e dei-lhe um beijo demorado no rosto. Tantos anos a menos e parecia que ele era mais seguro e sabia mais das coisas que eu.
- Bom, quando tu for gente grande, vai ter que conseguir um emprego, comprar umas coisas, arrumar uma namoradinha...
Fiz cócegas nele quando disse "namoradinha".
O Guigui deu um tapa na testa e riu com desdém de gente grande.
- Ai, tia, e quem que falou que pra ter namorada precisa ser gente grande? A senhora nem sabe de nada...

Aline Cavalcante.

Um comentário:

  1. Sériiioo? Vocês duas estão de piadas com esses textos fofos. Linda crônica, sériozão... Kaio Tillesse.

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