Compartilhando até dos porquês que nem eu entendo.


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terça-feira, 2 de julho de 2019

Então é Natal...


        Era natal, a minha época favorita do ano. A minha época favorita depois do meu aniversário ; sim, eu sei que isso soa narcisista, mas é no aniversário que comemoramos a vida, reunimos as pessoas que amamos, e, ok, ganhamos presentes e comemos muito, e não tem nada de errado em amar tudo isso;apesar de não ter uma família grande e feliz como as da propagandas da Boticário ou da Coca Cola. Mas ainda era Natal, que ,ao contrário do que os céticos dizem, não é uma época de hipocrisia na qual o capitalismo se aproveita em cima da crença do Papai Noel. Ok, talvez um pouco.
Porém, Natal é mais que isso, é quando as pessoas ficam mais doces e mais gentis, é quando relembramos o que realmente importa, é quando celebramos o amor e a fé em um mundo melhor, cada um na sua crença, seja qual for. É época de celebrar o amor e nos reunimos com quem importa, com quem permanece. É Natal, e isso já diz tudo. Cidade iluminada, cheiro de chocotonne no ar, chester saindo do forno e algo doce e mágico que aquece os nossos corações. Isso é Natal, a renovação da fé no amanhã, a luz que volta a brilhar.
Esse Natal era o segundo mais difícil da minha vida, o segundo que eu passava após uma perda recente, só que essa perda decidiu perde-se de mim. Era Natal e doía, doía porque eu queria desejar-lhe feliz Natal, doía porque eu queria abraçá-lo e dá-lo o presente de Natal que havia planejado. Doía porque ele era o presente de Natal que eu mais queria e não podia mais ter. Mas, como há uma mão que nos acaricia a cada perda, a cada dor, eu os tinha, eu tinha os meus amigos, a família que nós escolhemos para nunca abandonar e nem esquecer. E é com eles que eu tive o Natal imperfeito mais que perfeito de todos.
Finalmente Anna, Leo e eu havíamos chegado à casa de Anna, onde faríamos a ceia e levaríamos para o apartamento de Jade. Nosso Natal seria na casa de Anna, mas por conta de algumas questões familiares mudamos para o apartamento de Jade, ou melhor, da sua tia, que havia se mudado e estava morando em um condomínio de luxo, ou seja: iríamos nos aproveitar por um dia dos luxos da classe média alta, como todo bom cidadão da classe média que se preze!
Havíamos nos atrasado um pouco, não por minha causa, claro, pois ao contrário do que meus amigos caluniadores falavam, eu não atrasava assim! Eles que eram super hiper pontuais. Por Deus, eu não estava na Inglaterra! Mas agora, finalmente, estávamos na casa de Anna, que era do outro lado da cidade, e preparávamos a ceia. Eles preparavam, na verdade, já que eu não possuía muitos dotes culinários. Afinal, eu já tinha muitos outros talentos, certo? Uma garota não pode ter tudo! Anna era uma cozinheira de mãos cheias, em compensação, e eu queria que ela acreditasse em todo o potencial que todos víamos que ela tinha.
- Ariel, o que você está fazendo? Não é assim que se bate ovos, amiga! Leo, vem ver o que a Ariel está fazendo! – Disse Anna a gargalhadas.
- Nossa, amiga, fico cada vez mais impressionado com seus dotes culinários! É hora da bebê sair da cozinha, vai brincar com o amiguinho vai. – Falou Leo, rindo sarcasticamente e apontado para Erick, seu namorado que eu havia conhecido há pouco e já adorado!
- Há há há Como vocês  são engraçados, eu estou fazendo exatamente o que Anna mandou! – Falei, revirando os olhos e me segurando para não rir, ao mesmo tempo brava, pois não curtia muito isso de ser contrariada e fazer as coisas errado. Embora, sim, eles tinham razão. O que eu estava fazendo?
Depois de um tempo, finalmente tudo estava dando certo e nós não estávamos tão atrasados assim, pelo contrário, afinal, Jade ainda nem havia comprado o presente do seu amigo secreto! Ao fazermos essa descoberta, a vídeo chamada que estávamos fazendo se encheu de lamúrias desesperadas e indagações como "Jade, como assim você ainda vai ao shopping comprar o presente do amigo secreto??". Ao passo que Jade apenas ria das nossas caras. Aquela Jade! Ainda nem acreditava que éramos amigas há tão pouco tempo! Eu era tão grata por tê-la, isso só mostrava como tudo na vida tem um motivo e como podemos extrair algo bom até de situações improváveis, e esse era o meu presente que permanecia após o fim do meu relacionamento, a minha amiga corajosa e protetora, a minha amiga Jade.
Finalmente decidimos que eu, Leo e Erick ficaríamos no condomínio enquanto Jade, Anna e Pedro, seu namorado iriam ao shopping mais perto comprar o tal presente. Era tão bom ver Anna e Pedro juntos, eu havia acompanhado o fim do namoro e todo o meio termo que veio após isso. Ao menos os meus amigos estavam felizes no amor, e eu estava reaprendendo a ser feliz só. Aliás, só não, sozinha nunca, pois eu tinha muitas pessoas especais na minha vida. Sabe, muitas pessoas criticam a tristeza que vem por você estar só após um tempo namorando, mas o que essas pessoas não entendem, ao menos no meu caso e, com certeza, de outras pessoas, é que você sabe e é feliz "sozinho", não é a falta de ter um namorado ou uma namorada que dói, é o fato de você não ter aquela pessoa específica para viver todos aqueles momentos ao seu lado, porque, no final das contas, todo mundo quer um amor. E eu sou canceriana, pelo amor de Deus!
De repente fui acordada dos meus devaneios, afinal, o que importava hoje era só estar na companhia dos meus amigos. Eu, Leo e Erick decidimos explorar o condomínio, descer para a piscina, enfim, fazer qualquer coisa que fizesse aquela fome absurda passar enquanto o resto ia ao shopping. Obrigada de novo, Jade.
Depois do que pareceu uma eternidade, eles voltaram. Finalmente iríamos comer! Ou não. Pois Jade esqueceu A CHAVE no shopping. Céus, eu estava a ponto de jogar Jade na piscina. E teria ajuda.
- Acho bom eles voltarem logo, ou eu vou devorar o Erick! E não no bom sentido. – Disse Leo, uma mistura de zanga com risos.
- Ei, me tire fora dessa! Se alguém vai ser devorada é a jade! – Respondeu Erick, puxando Leo para um selinho.
- Hey, vão para um quarto ou respeitem a minha posição de vela! – Falei, fingindo raiva, mas não conseguindo segurar o riso por muito tempo. Típico Ariel, típico.
- Como quiser, querida amiga. – Respondeu Leo, ao segurar a mão de Erick e fazer menção a sair da piscina. Para logo depois gargalhar.
Resolvemos subir um pouco para eu ir me preparando, afinal, a minha fama de demorar a me arrumar já chegou até as montanhas do Himalaia. Vai entender. Eu não lembrava qual era a porta, pois eram exatamente iguais, uma do lado da outra, em minha defesa. Então, Leo apontou-me qual era a porta, e eu simplesmente fui abrindo, afinal, a porta estava aberta. De repente, Leo gritou "Ariel, não é esse o apartamento! Não acredito que você não percebeu".Eu fiquei vermelha como o meu vestido natalino e tentei explicar que a culpa claramente era ele, já que as portas eram iguais, os apartamentos eram iguais e nós só havíamos ido lá no momento em que chegamos. Claro que era super normal confundir. Ou não? Então, simplesmente gargalhamos, o que não é nenhuma novidade quando se está na presença de Leo, a sua alegria e energia são contagiantes. Porém, as pessoas que estavam no apartamento que eu sorrateira e inocentemente invadi saíram de lá, e eram rapazes da nossa idade. Ótimo. A situação não poderia ficar melhor. Então, eles falaram conosco sobre a música de "sofrência" que tocava no apartamento da tia de Jade, que estava com as suas amigas ouvindo Marília Medonça. E eu simplesmente não conseguia agir como uma jovem mulher normal e me conter. Claro que eu não conseguia. Ao invés disso, eu ficava cada vez mais vermelha e me controlava para conseguir parar de rir. Ótimo. Agora a situação realmente não podia ficar melhor. Ou é melhor eu manter a minha boca calada. Afinal, Leo não me deixaria esquecer aquele momento constrangedor, e, ok, bem engraçado. E contaria ao condomínio todo se fosse possível. Já me preparava para as piadas. Dou-lhe uma, dou-lhe duas...
- Então, Ariel...- Falou Leo. Aqui vamos nós.
Descemos novamente e vimos que finalmente nossos amigos haviam chegado. Coitado do Pedro, não aguentava mais andar de um lado para o outro. A sua cara de fome estava impagável. Pedro era tão jovem, mas já tão responsável e batalhador, não é a toa que sua carreira na política iria decolar, uma hora ou outra. E, graças a Deus, ele tinha Anna, uma mulher maravilhosa, ao seu lado, para ajudá-lo em tudo.
Quando finalmente íamos subir. Comida, eu posso te sentir. De repente. Fome. Anna disse que havia esquecido os presentes do amigo secreto, dela e de Pedro, na sua casa. Não. Comida. Fome. Não. Não. Socorro, vou virar um zumbi natalino e sair por ai comendo as pessoas. E como disse Leo, não em um bom sentido. Ao menos a casa de Anna era perto. Mas, sério, que jantar mais difícil era aquele? Estava mais difícil do que ir à lua. Meus amigos olhavam de um para o outro, com cara de desespero e agonia. Juro que podíamos escutar o estomago um do outro roncar. Observávamos mais uma vez nossos amigos voltarem para aquele looping. Sério, aquele era um labirinto anti Natal muito cruel. Grinch, isso certamente é obra dele. Sempre soube que o Grinch era real. Eu vi um cara de verde passando ou estou alucinando devido à fome? Ai meu Papai Noel.
Esperamos o que pareceram mais alguns séculos. Até o repertório humorístico de Leo parecia acabar. E olha que eu achava que aquilo era impossível. Quando, finalmente, nossos amigos voltaram. Obrigada, Papai Noel. Chupa essa, Grinch.
- Gente, tudo certo? Digam que ninguém esqueceu mais nada, pelo amor de Deus! – Disse Leo, aos berros, dramatizando um pouco a situação, claro, seu senso de humor era sempre certeiro.
- Sim, agora vai! – Disse Jade, também fazendo cara de desespero, mas rindo do tom de dramalhão mexicano usado por Leo.
Subimos o elevador, emocionados porque finalmente iríamos fazer uma das melhores coisas da vida: comer. Obviamente.
Estávamos rindo, Leo já contando o meu momento maravilhosamente constrangedor com os vizinhos. (Que ao menos eram bonitinhos. Ops...). Quando percebemos que a porta do apartamento estava trancanda. Ah não...Sério? Nós tocávamos a campainha, os cachorros latiam. Maravilhosos caninos, sempre tentando ajudar. Jade gritava que nem uma louca, possivelmente acordando todo o prédio, inclusive os vizinhos gatos, menos, claro, a pessoa que mais nos interessava, a sua tia. Anna e Pedro não tinham nem mais forças para fazer algo. Erick olhava para os lados, pensando como diabos havíamos tornado comer algo tão impossível. Leo falava da sua teoria de estarmos em um looping. E talvez fosse verdade.
- Ariel, agora é a hora que você realmente entra na cada dos vizinhos e ai nós passamos de uma janela para a outra, ou simplesmente pedimos abrigo. – Disse Jade as gargalhadas, afinal, não tínhamos para onde ir, não tínhamos o que comer, então, claro, que a distração seria a pobre e inocente Ariel.
- Fala baixo, Jade! Eles podem ouvir. – Falei, enrubescendo só de pensar na possibilidade de novamente viver um momento daqueles com aqueles caras desconhecidos. Por Céus, desde o fim do meu namoro eu não sabia nem o que era paquerar mais.
- Essa é a intenção! – Respondeu Jade.
E todos começaram a falar, Leo contou pela milésima vez a história da porta errada, e assim seguimos, até, finalmente, a tia de Jade acordar e abrir a porta. Meu Deus, aquilo era real? Ou um sonho? Finalmente tinha dado certo?
Anna correu para arrumarmos as coisas e eu corri para me arrumar e depois ajudá-la, claro. Prioridades, prioridades.
O apartamento se encheu de tudo que mais amo no Natal, risadas, cheiro de comida gostosa e quentinha, e, acima de tudo e de todos, amor. Eu observava aquela cena dos meus amigos e meu peito se enchia de amor e gratidão, nada mais importava naquele momento. Eles me faziam sentir que era, de fato, Natal. Quando, de repente, Leo olhou para todos nós e disse:
- Será que de fato estamos todos aqui finalmente comendo ou isso é uma alucinação e o looping começará novamente e nós ainda estaremos descobrindo que a Jade ainda vai comprar o presente do amigo secreto, e a Anna esqueceu o dela e...
Todos gargalhamos e gritamos em uníssono "Não, por favor. NÃO!".
E sim, de fato, era Natal. Eles faziam raiar o Natal em mim, porque eles faziam raiar o meu melhor mesmo durante o meu pior.
Nós comemos (FINALMENTE. Deus, de fato, existe), rimos, jogamos, fizemos o nosso amigo secreto. Eu tirei o Leo, e a Anna me tirou. Mas eu não conseguiria contar tudo que houve nesse Natal nem que eu tentasse arduamente, não conseguiria descrever os sentimentos nem que fosse Jane Austen, porque tem coisas que nós não conseguimos explicar por meio das palavras, tem coisas que nós só conseguimos explicar dentro de nós. Na vida, há coisas que as palavras não conseguem explicar, nós só sentimos e isso basta. E isso é mais do que o suficiente.
Anna, o meu complemento, coração precioso e desmedido, o talento prestes a ser descoberto. Braços e coração abertos.
Jade, a minha protetora, coragem e grandiosidade, uma inspiração. Meu refúgio.
Leo, a minha alegria, serenidade e felicidade. Orgulho de ter como amigo. Não tem como ficar triste ao seu lado, e isso é um dom.
Pedro, fé no futuro, honestidade e generosidade. Orgulho de vê-lo sonhar e viver do seu sonho.
Erick, sente-se a bondade só de olhar. Leveza e simpatia aonde chegar.
Obrigada por terem me dado o Natal imperfeito mais que perfeito de todos. O Natal é uma vez ao ano, mas vocês...vocês são o meu presente o ano todo. Obrigada por me fazerem sentir que é Natal, mesmo quando não é.

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