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terça-feira, 2 de julho de 2019

Desventuras em série: O Cara Babaca Que Se Faz De "Bonzinho".


      Quando você está perdida pode interpretar qualquer sinal errôneo como uma tábua de salvação. E pode ser enganada de forma mais fácil, já que quer desesperadamente algo que te faça esquecer os problemas e decepções que já passou. E é assim que nós começamos com o Ricardo.
A vida vai se ajustando aos poucos, ser professora de escrita criativa é algo que me mantém lúcida. Mas ainda falto algo. Obviamente quando você perde alguém amado falta algo, sempre irá faltar. Ricardo chegou nesse momento da minha vida, ele trabalhava no mesmo departamento que eu e por isso estava sempre presente. Fosse na faculdade, fosse no nosso ciclo de amigos, e isso fez com que eu acreditasse que ele poderia ser especial.
Sempre fui movida às emoções nesse departamento, sempre vivi o que senti, então nunca fui muito de dar chance a caras por quem não sentia a "faísca". Era preciso despertar algo em mim de cara, sabe? Talvez isso fosse pedir muito, mas quase sempre eu sabia quando iria gostar da pessoa. Nada de amor à primeira vista, por favor, não estamos em um clichê de comédias românticas, embora, muitas vezes, eu preferisse estar. Era mais como um...sentimento, um aviso, um instinto. Algo inexplicável e inomeável. Eu não senti isso pelo Ricardo, não senti nenhuma faísca, nenhuma empolgação. Mas, mesmo assim, resolvi dar uma chance. E esse foi o meu erro.
Me falavam que eu deveria dar chances a "caras legais", me falaram que eu tinha uma queda por "galinhas" e "bad boys". Isso não era TOTALMENTE verdade. Ok, talvez só um pouco. E há uma explicação para isso. Talvez fosse o senso de aventura, talvez fosse por terem algo que me faltava. Eu era a certinha, e ,sim, tem algo de excitante em se deixar envolver pelo errado. Admito. Talvez sejam as malditas comédias românticas hollywoodianas, com aquelas histórias de garotas boazinhas com caras "maus". A questão é que eu queria quebrar esse padrão e foi isso que me ferrou.
Ricardo era inteligente e relativamente divertido. Ele parecia realmente gostar de mim. Afinal, quem passa meses esperando por uma chance com você? Quem espera você terminar um relacionamento para tentar algo? Ele me viu sofrer e gritar, ele sabia de tudo, sabia como eu estava fragilizada. E éramos amigos. Claro que ele não iria me magoar. Certo?
Cansei de me sentir culpada por , supostamente, não dar chances a caras legais. Eu vou tentar, vou dar uma chance ao Ricardo. Ok, ele não é o meu tipo. Veja bem, eu gosto de caras bonitos (bonitos para mim, para o meu gosto). Eu não sou fútil. Droga, qual o problema de gostar de caras bonitos? Não é como se eu só reparasse nisso ou procurasse um modelo da Calvin Klein. Mas é preciso chamar a minha atenção, entende? Não há um ingrediente segredo, mas há pessoas que despertam algo em você, e ele, definitivamente, não despertava isso em mim. São as malditas "faíscas", já expliquei!
Acho que sentimentos pelo Ricardo podem estar surgindo. Quer dizer, ele é um fofo comigo. Conversamos por mensagens e eu gosto. Digo, estou gostando de conversar com ele e de provocá-lo, é um começo. Me agrada a ideia de sairmos juntos de casais. Quão legal é isso? Eu sempre quis uma saída de casais de amigos. Mas espera aí, ele não quer que eu conte aos nossos amigos, diz que é muito cedo e isso pode gerar uma pressão. Eu concordo. Acho. Faz sentido, não faz?
Estamos ficando há um tempinho. Acho que estou gostando dele. Nossos amigos ainda não sabem, acho que eles desconfiam, não sei por que não contar logo, mas ok.
Recebi uma mensagem anônima. UMA MENSAGEM ANÔNIMA.
Me falaram que ele tinha uma namorada. Ou melhor, ficante. Ou melhor, eles não namoravam, mas iriam casar.
QUE MERDA É ESSA?
Obviamente eu achei que estava ficando com um cara solteiro. Obviamente eu soltei os cachorros, ou melhor, os pitbulls nele. Qual foi a reação? Ah, a reação foi uma história bem convicente (ou não, a gente acredita no que quer) sobre a tal da menina, a Renata, ser doida, sobre eles terem ficado antes de mim, mas não estarem mais ficando. O que eu deveria fazer? Conversar com a menina (que ok, pareceu um pouquinho maluca, no final das contas), e esclarecer, descobrir quem estava mentindo.
Espera. Eu não vou fazer isso. É óbvio que a menina é louca. Olha só a história que ela contou. Noivos sem nem namorar? Me poupe! Certo?
Errado.
Mas eu deveria confiar nele, eu o conheço. Vou confiar nele, certo?
Errado.
Ele não faria isso, não depois de tudo...Certo?
Errado.
Certo. Certo.
Passamos essa história. Claro que foi um mal entendido. Claro que a menina é louca.
Ele tá mais distante, e ainda por cima não assume que a gente fica. "Melhor evitar falar, caso não dê certo." Palavras dele. Romântico, não?
Não fazemos programas de casal. Sei lá, é legal a reunião com a galera. E é legal ele vir aqui para a minha casa. É legal eu ir pra casa dele. Mas cadê o cinema? Ou o jantar? Não sei. Falta um pouco mais de...romantismo, companheirismo. Eu não me sinto respeitada. Por que deixo isso acontecer? Eu só não quero me decepcionar de novo. Isso é coisa da minha cabeça. Certo?
...
O Ricardo está distante, eu sei. Eu simplesmente sempre SEI quando tem algo de errado. Eu sinto quando vou ser magoada. Eu sinto que vou me ferrar. É caótico. É um trem desgovernado, mas eu não consigo me mexer. Só resta, uma das coisas que mais detesto, esperar. E S P E R A R.
E ele simplesmente some. E ele não dá nenhuma satisfação.
Vou falar, vou questionar, eu tenho o direito de saber o que diabos está acontecendo.
Ele fala simplesmente um "Nós não estamos mais ficando, ue. Achei que estava claro. Achei que não precisássemos conversar."
Claro, porque eu sou a porra de uma boneca descartável.
"Nós muito somos diferentes. Não vai dar certo, sabe? Acho que é melhor assim". Tradução: "Você não faz o que eu quero. E me cobra coisas, como comprometimento. Além disso, e principalmente por isso, a gente não transa. Esse relacionamento não é cômodo para mim. Você nega o que eu quero, pensa e me questiona".
E isso era eu sendo besta. Ah, querido, você não tem ideia de como realmente eu PENSO e QUESTIONO agora. Como eu realmente só faço o que eu quero e o que meu corpo quer. Sinto muito se você não foi bom o suficiente para conseguir de mim o que queria.
Eu falei.
E falei.
Uma coisa que você aprende na vida é falar o que quer , a não se importar se ELE não quer ouvir, mas se importar com o que VOCÊ precisa falar.
E assim encerra-se uma bela história de amor.
Não, claro que tem mais. Mas ,calma, garotas. Agora não é a hora que ele vem atrás do seu amor, quer voltar arrependido. Não é uma comédia romântica, ao menos ainda não, por enquanto é só a vida.
Ele está namorando com a tal Renata. Ele postou no nosso grupo ao invés de falar comigo cara a cara. Qual o problema desse "homem"? Sim, entre aspas, assim mesmo. Aliás, qual o meu problema não ter visto tudo isso? E, ainda por cima, ele fala comigo normalmente, como se nada tivesse acontecido.
Parabéns, Ricardo. Você ganhou o prêmio de cara de pau do ano.
Vamos fechar com chave de ouro? Por algum motivo, você não supera logo ele, você está apaixonada, sabe-se Deus o porquê. (Idealização romântica, carência, e motivos afins). O que fazemos como uma forma saudável de superar o boy? Stalkear ele e a namorada, é claro! (Parabéns para quem acertou).
Eu ainda tentei por um tempo achar justificativas para a sua falha de caráter, sabe? Ainda pensei que em um futuro poderíamos ser amigos. Mas sabe as pessoas que falam que stalkear o ex não faz bem? Na verdade, às vezes é ótimo. Aqui eis a minha descoberta: o amuleto que eu havia dado ao Ricardo, como uma pessoa meiga e fofa que sou, apareceu misteriosamente no pescoço da Renata. Sim. É, eu sei.
Na verdade, isso foi maravilhoso. Depois dessa, Ricardo poderia ser o último homem da terra e eu não ficaria com ele. De repente, a ideia de viver em terras distantes com monges pareceu agradabilíssima. E essa é a nossa história de amor.
Se eu me arrependo do Ricardo? Claro que não! Ele me ensinou lições preciosas.
Lição número 1: Faça somente o que você quer, girl. Sei que muitas vezes as pessoas querem ajudar, mas as suas escolhas são suas, erradas ou certas, boas ou ruins, você é quem precisa decidir, arcar com seus erros e acertos, e ,assim, aprender. Siga a "faísca", se vai correr risco, ao menos corra por algo ou alguém que fez você sentir.
Lição número 2: Onde há fumaça, normalmente há fogo. Verifique. Confiar é bom, mas certifique-se de confiar em quem vale a pena.
Lição número 3: Não culpe a outra garota. Muitas vezes ela pode estar na mesma situação que você, ela pode não ver que está com um idiota. É bem mais fácil pôr a culpa na garota, nosso sistema machista nos ensinou isso. Além disso, é mais difícil culpar quem você gosta e enxergar que o cara por quem está apaixonada não é um "pobre coitado" que foi coagido pela "vadia". Mas precisamos enxergar. Precisamos nos unir. Mulheres no poder. Cadê a nossa irmandade? Culpe o verdadeiro dono da culpa, independendo do gênero.
Lição número 4: Você não é a louca da história e nem deve se pressionada. Só faça o que quer, fale o que quer, viva o que quer. O relacionamento é feito por duas pessoas. Tenha voz.
Eu vos apresento Ricardo, mais conhecido como o cara babaca que se faz de "bonzinho". Foi um prazer conhecê-lo e aprender valiosas lições, mas foi um prazer ainda maior livrar-me dele.
                                                                                                                                              Assinado,
                            Queen Villanueva

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