Compartilhando até dos porquês que nem eu entendo.


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domingo, 20 de outubro de 2013

Dois desconhecidos íntimos.


O jeito que ela se escondia na livraria era como se quisesse fugir do mundo e das pessoas. Seu olhar fixo, os cabelos negros caindo pelo rosto a medida que baixava a cabeça, parecendo se esconder. O jeito que olhava tão fixamente para os livros era como se quisesse fugir para dentro de um deles, como se pudesse viver naquele mundo. Algo me atraia para ela, tanto que nem me de conta de ter caminhado para perto dela até está do seu lado.
- Então, do que você está fugindo?
Levantei a cabeça e me deparei com aqueles olhos castanhos extremamente intensos me encarando. Ele era lindo, mas mesmo assim eu pensei “Do que esse louco tá falando?”. Ainda levei um tempo para processar que ele falava comigo, na verdade até reparei que ele parecia me observar mas resolvi deixar para lá e focar no meu livro. Por fim, entre tantas respostas sagazes que eu poderia ter dado apenas perguntei:
- Do que você está falando?
- O jeito que você está olhando para esse livro...parece que você quer fugir de algo.
- Bem, o jeito que você chegou aqui do nada me fazendo essa pergunta parece de alguém que fugiu do hospício. Embora nem tudo seja o que parece, se bem que no seu caso...
- Bem colocado. - Eu gostava do jeito que ela era sagaz, apesar de não está acostumado a ser tratado desse jeito pelas mulheres. E então ela apenas arqueou a sobrancelha e voltou-se para o livro.
- Eu não deveria te confessa, mas já li esse livro.
- Sério? Ou você está tentando me impressionar? – Normalmente eu não falaria aquilo a alguém que eu mal conheço mas havia decidido falar o que penso, sem falar que havia algo estranhamente familiar nele.
- Não seja tão convencida. Sei que é um livro tido mais como feminino mas eu li secretamente. E não, eu não sou gay.
- Claro, é apenas mais um dos seus charmes.
- Primeiro gostaria de agradecer por me chamar de charmoso e em segundo: Esses livros podem mesmo te ajudar a entender as mulheres e então fica tudo mais fácil.
- Sabe, não é apenas lendo um livro que você impressiona alguém, a forma como você vai interpretá-lo também diz muito.
- Obviamente posso te falar tudo que achei dele enquanto tomamos um café.
- Eu não gosto de falar e não quero spoliers.
- Sabe, eu ainda te acho um doce de pessoa apesar de você tentar ser rude.
- Eu estou sendo rude.
- É, mas eu sei que você não é assim.
- Você não me conhece.
- Talvez não mas eu ainda sinto que te entendo.
- O que você vê então?
- Uma forma de defesa, quando você é ferido ataca como forma de se defender, de tudo, do mundo e suas arbitrariedades e das pessoas e o mal que elas podem te causar.
- O pior é que quanto mais você ama alguém mais vai doer. E quanto mais pessoas mais riscos.
- Mas você me parece corajosa em meio a tudo isso.
- Eu sou ou costumava ser. Mas fica difícil quando as dores vem de quem você menos espera.
- Isso não é um simples coração partido, é?
- Não, eu já aprendi a lidar com isso e não fico assim por tão pouco. É pior. Como eu disse vem de pessoas que você não espera.
- Você se sente só. E corre pra cá para se sentir mais preenchida.
- Quem é você afinal? Tá começando a me assustar.
- Acho que agora é a hora que você aceita sair pra comer algo comigo.
E saíram de lá como os mais desconhecidos íntimos, já que em meio a tanta gente no mundo é difícil você se encontrar com alguém que compreenda sua alma. Entre tantos íntimos desconhecidos aqueles dois desconhecidos eram mais íntimos do que muita gente que dividia as manhãs de cada dia. 


                                                             Beijo, G.

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