O jeito que ela se escondia na livraria era como se quisesse fugir do mundo e das pessoas. Seu olhar fixo, os cabelos negros caindo pelo rosto a medida que baixava a cabeça, parecendo se esconder. O jeito que olhava tão fixamente para os livros era como se quisesse fugir para dentro de um deles, como se pudesse viver naquele mundo. Algo me atraia para ela, tanto que nem me de conta de ter caminhado para perto dela até está do seu lado.
- Então, do que você está fugindo?
Levantei a cabeça e me deparei com aqueles olhos
castanhos extremamente intensos me encarando. Ele era lindo, mas mesmo assim eu
pensei “Do que esse louco tá falando?”. Ainda levei um tempo para processar que
ele falava comigo, na verdade até reparei que ele parecia me observar mas
resolvi deixar para lá e focar no meu livro. Por fim, entre tantas respostas
sagazes que eu poderia ter dado apenas perguntei:
- Do que você está falando?
- O jeito que você está olhando para esse
livro...parece que você quer fugir de algo.
- Bem, o jeito que você chegou aqui do nada me
fazendo essa pergunta parece de alguém que fugiu do hospício. Embora nem tudo
seja o que parece, se bem que no seu caso...
- Bem colocado. - Eu gostava do jeito que ela era
sagaz, apesar de não está acostumado a ser tratado desse jeito pelas mulheres.
E então ela apenas arqueou a sobrancelha e voltou-se para o livro.
- Eu não deveria te confessa, mas já li esse livro.
- Sério? Ou você está tentando me impressionar? –
Normalmente eu não falaria aquilo a alguém que eu mal conheço mas havia
decidido falar o que penso, sem falar que havia algo estranhamente familiar
nele.
- Não seja tão convencida. Sei que é um livro tido
mais como feminino mas eu li secretamente. E não, eu não sou gay.
- Claro, é apenas mais um dos seus charmes.
- Primeiro gostaria de agradecer por me chamar de
charmoso e em segundo: Esses livros podem mesmo te ajudar a entender as
mulheres e então fica tudo mais fácil.
- Sabe, não é apenas lendo um livro que você
impressiona alguém, a forma como você vai interpretá-lo também diz muito.
- Obviamente posso te falar tudo que achei dele enquanto
tomamos um café.
- Eu não gosto de falar e não quero spoliers.
- Sabe, eu ainda te acho um doce de pessoa apesar de
você tentar ser rude.
- Eu estou sendo rude.
- É, mas eu sei que você não é assim.
- Você não me conhece.
- Talvez não mas eu ainda sinto que te entendo.
- O que você vê então?
- Uma forma de defesa, quando você é ferido ataca
como forma de se defender, de tudo, do mundo e suas arbitrariedades e das
pessoas e o mal que elas podem te causar.
- O pior é que quanto mais você ama alguém mais vai
doer. E quanto mais pessoas mais riscos.
- Mas você me parece corajosa em meio a tudo isso.
- Eu sou ou costumava ser. Mas fica difícil quando
as dores vem de quem você menos espera.
- Isso não é um simples coração partido, é?
- Não, eu já aprendi a lidar com isso e não fico
assim por tão pouco. É pior. Como eu disse vem de pessoas que você não espera.
- Você se sente só. E corre pra cá para se sentir
mais preenchida.
- Quem é você afinal? Tá começando a me assustar.
- Acho que agora é a hora que você aceita sair pra
comer algo comigo.
E saíram de lá como os mais desconhecidos íntimos,
já que em meio a tanta gente no mundo é difícil você se encontrar com alguém
que compreenda sua alma. Entre tantos íntimos desconhecidos aqueles dois
desconhecidos eram mais íntimos do que muita gente que dividia as manhãs de
cada dia.
Beijo, G.
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