Compartilhando até dos porquês que nem eu entendo.


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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Entre o céu e o inferno.


              Aquele lugar era surreal, ela até acharia que estava sonhando se não sentisse aquele frio penetrante enquanto o vento levantava a camisola final e branca do hospital. Ela ainda estava com a camisola do hospital, mas não havia saído de lá, um frio ainda mais penetrante percorreu sua alma, algo estava errado. Havia duas filas, a onde estava era calma, ela procurava alguém conhecido mas nada, só via alguns velhinhos fofos e alguns de sua idade, tinha até uns adolescentes e umas crianças. Ela tinha vinte e quatro, uma carreira já promissora, trabalhava no jornal e finalmente tinha conseguido a sua coluna. Tinha uma boa vida, com vários bons amigos, uma grande e unida família, um namorado de quem gostava. Ok que ela não era apaixonada por Jack como ele era por ela, mas como resistir ao encantador nova-iorquino que conheceu em uma de suas viagens? Ele a fazia sorrir e era um dos principais incentivadores da sua carreira, ele a amava. Então por que de vez em quando ela ainda se perguntava por onde andava Eric? Sua via estava ótima, perfeita e normal, exceto por: O que diabos estava acontecendo?
Na outra fila, a que era meio assustadora e inquietante, um grito ecoou enquanto um homem de terno e com cara de político gritava que tinha dinheiro e podia comprar qualquer coisa. Uma mulher com um vestido preto grudado ao corpo e cabelos brancos platinados gigantes pediu espaço entre os caras fortes que cuidavam das filas – eles pareciam aqueles seguranças de celebridades – ela flutuou entre todos e segurou o homem de terno irritado enquanto ele a olhava extasiado, de repente ele gelou e não conseguia mais se mexer. A bela mulher deu um sorriso tão frio que gelou minha alma. Eu precisava sair daquele lugar. Foi quando repente o vi. Eric. Ele estava naquela fila. E parecia são calmo, não calmo, mas sem emoções. Assim que a mulher sumiu e tudo voltou ao normal eu comecei a sair da minha fila sorrateiramente, precisava falar com ele. Ok que as coisas não terminaram muito bem entre a gente mas ele era a única pessoa que eu conhecia naquele lugar. O caminho que eu fiz até ele pareceu passar em câmera lenta, lembrei-me dos nossos bons momentos e da nossa última conversa, “Você vai me trocar por esse nova-iorquino? Eu amo você”. Aquilo me doía até hoje. Eu o amava, uma parte minha sempre o amara e iria amá-lo, ele era meu amigo e o cara por quem eu tinha sido enlouquecidamente apaixonada, mas nossa relação era complicada, sempre foi. Eu não queria tê-lo deixado mas não pude mais lidar com suas atitudes, não pude mais lidar com ele e com como me deixava. Eu precisava pensar em mim, na minha carreira, na minha felicidade, e foi isso que eu fiz, e foi ai que Jack surgiu. Depois de uns meses soube que Eric havia se metido em situações nada boas, eu tentei ajudá-lo, eu fui atrás dele, eu o conhecia, ele tinha um bom coração, era inteligente, eu via em seus olhos. Mas não naquela vez. Ele não tinha mais o brilho habitual nos olhos, o hálito fedia a bebida e a barba mal feita também. Ele estava no fundo do poço e não havia mais nada que eu podia fazer. Então eu o abandonara. Sempre me diziam “Não há mais nada que você possa fazer, Alexia. Você precisa ser feliz agora...”. Mas eu era feliz com ele, pelo menos havia sido. E eu sabia que o abandonara. Acho que uma parte minha jamais se perdoara.
De repente eu estava lá de frente pra ele, ele me olhava com uma mistura de surpresa, tristeza, dor, alegria, amor? Tudo isso junto. “Eric?”, eu disse e ele só me fitava, até que finalmente respondeu “O que você faz aqui? O que aconteceu com você?” Comecei a explicar o meu acidente de carro e sobre como em um minuto estava no hospital e depois acordara naquele lugar estranho. Ele havia ficado pálido e com uma expressão desesperada. Eu não entendia ou não queria entender.
- Você não pode ter... Mas o que você faz nessa fila? Tenho certeza que a sua fila não é essa.
- É, eu estava na outra, mas vim falar com você. Aliás, acho que você deveria ir para lá comigo...
- Alexia, você tem que sair daqui! Volte para a sua fila, vamos!
- Eu não vou sem você. Sei que você acha que eu não me importo mas eu me importo, Eric! Não vou te deixar aqui nesse lugar estranho...Dessa vez eu vou te ajudar.
- Não há mais como me ajudar, Alexia. Eu...você...nós estamos mortos...
De repente tudo fazia sentido, o lugar, as pessoas, as filas...mas Eric estava mesmo naquela fila? Meu Deus, como eu o havia abandonado? Eu precisava sair dali, nós precisamos. As coisas não poderiam acabar assim, precisava de outra chance. Para mim. Para ele. Para nós. Para quem eu havia deixado.
- Nós vamos sair daqui, Eric. Eu vou achar um jeito, você terá outra chance e dessa vez eu vou te ajudar...
- Ok, senhorita sempre-resolvo-tudo-para-todos. E como exatamente você pretende fazer com que isso aconteça? Sabe, não é lá a coisa mais simples do mundo.
- Nós ainda estamos na fila, o que significa que ainda estamos na frase de transição, ainda temos alguma chance. Sabe como é, li em algum livro sobre algo assim...
- Ah claro, leu em livros. Quase me esquecera de que você é assim. Mas ok, eu sempre achei que você era capaz de tudo mesmo. Vamos fazer isso.
E ele me deu a mão. Fazia tanto tempo que não segurava sua mão, e apesar de toda aquela situação segurar sua mão ainda era confortante. Eu não sabia bem como resolveria isso, mas nos acharíamos uma solução. Eu sabia disso e ele também. 

                                                       Beijo, G.

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